A gravidez na adolescência é uma situação bastante delicada e muito mais comum do que as pessoas pensam. O Brasil tem um número muito expressivo de gestações na adolescência, não havendo estimativas de dados sobre a paternidade na mesma fase da vida. No nosso país as estatísticas do SUS de 2023 mostram que por dia, 1.043 adolescentes se tornam mãe no Brasil, com 44 nascimentos/hora de bebês filhos de mães adolescentes, duas delas tendo idade entre 10 e 14 anos. Dados bastante assustadores que nos levam a muitas reflexões.
A primeira semana do mês de fevereiro foi intitulada como a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, instituída em 2019 tendo como objetivo a disseminação de informações sobre medidas preventivas e educativas que diminuam a ocorrência de gestações na adolescência.
Abrir espaço para tratar do assunto na família e em conversas com os adolescentes (de ambos os sexos) é uma ação preventiva. Conversar sobre sexualidade não estimula que o adolescente tenha relações sexuais, como muitos pais temem. O exercício da sexualidade por eles pode acontecer ou não independente dessas conversas. A diferença é que abrindo-se espaço para esse diálogo, esse exercício da sexualidade acaba sendo muito mais seguro, com menor possibilidade de gestações, situações de vulnerabilidade, violência e ocorrência de infecções sexualmente transmissíveis, possibilitando ao adolescente tomar decisões mais responsáveis sobre sua saúde sexual e reprodutiva. Conhecer o próprio corpo, plantar valores como respeito ao seu próprio corpo e ao corpo de outros é extremamente saudável.
Garantir a possibilidade das meninas irem a uma consulta ginecológica de rotina é outro importante caminho de prevenção. Nela poderão ser discutidos e ofertados métodos contraceptivos, ressaltando-se que os adolescentes tem direito ao acesso aos métodos.
O espaço de diálogo deve também ser promovido quando a adolescente está grávida, possibilitando uma gestação mais saudável, com uma rede de apoio, cuidado e proteção para ela e seu bebê, garantindo assistência não apenas a sua saúde física, mas também a aspectos psicossociais.
Quando vemos uma adolescente grávida, uma pergunta sempre vem em mente. Por que ela engravidou??? Várias são as razões para que tenhamos uma adolescente grávida ou a paternidade em um adolescente. Listamos abaixo algumas delas, mas várias outras são possíveis.
* desinformação sobre sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos
* questões emocionais
* questões psicossociais
* contextos sociais, como falta de acesso a métodos contraceptivos ou assistência de saúde * causas relacionadas ao desenvolvimento psíquico dos adolescentes como um pensamento mágico e inconsciente de estar grávida ou ser pai é ser sinônimo de que é amada/o ou ter de fato conquistado a outra pessoa
* questões relacionadas ao romance e mesmo a violência (situações opostas mas que podem acabar da mesma forma)
* projeto de vida – alguns adolescentes tem SIM esse projeto de vida
É importante ressaltar, que a gestação na adolescência funciona como um importante fator de risco para complicações tanto maternas, como fetais e neonatais, além de ser fonte de possíveis problemas socioeconômicos, inclusive com altas taxas de abandono de escola e de futuras oportunidades de estudo e desenvolvimento profissional.
TODO adolescente, de ambos os sexos, devem ter além de espaço na família para o diálogo sobre sexualidade, possibilidade de assistência de serviço de saúde para orientação e tratamento caso seja necessário, com oferta inclusive de métodos contraceptivos.
Pais de adolescentes, abram esse espaço para o diálogo!!!! Será uma rica experiência para seu filho/a ter você ao lado. Ter apoio da família durante a adolescência é tão importante quanto o apoio que as crianças recebem durante os primeiros anos de vida.
Estejam próximos dos seus filhos sempre!!!!! E tenha o pediatra como um amigo e apoio para essa fase.
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatra e Infectologista Pediátrica – CRM 85228