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Vacinas meningocócicas: o que é importante saber

A meningite é um processo inflamatório ou infeccioso das meninges, que são as  membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Pode ser causada por diversos agentes infecciosos, sendo as bactérias geralmente as mais temidas, pela sua gravidade e potencial de desfechos desfavoráveis como óbito ou seqüelas. A infecção pode acontecer em qualquer faixa etária, havendo picos de incidência no início da vida e adolescência.

Uma das bactérias causadoras de meningite é o meningococo, sendo ele considerado um agente infeccioso altamente agressivo, com possibilidade de causar infecções graves no ser humano, não apenas meningite meningocócica, mas também quadros disseminados como meningococemia. Existem diversos sorogrupos de meningococo, sendo os mais freqüentes os tipos A, B, C, W e Y.

No Brasil temos a prevalência do sorogrupo C como causador das meningites meningocócicas, tendo já sido responsável em anos anteriores por mais de 80% dos casos registrados (dados do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo). O segundo maior sorogrupo causador de meningite meningocócica é o tipo B, mostrando-se em elevação no número de casos, desde os anos de 2010-2011. Progressivamente nota-se uma diminuição do número de casos pelo sorogrupo C e uma ascensão do B.

A única e mais eficaz forma de prevenção das meningites meningocócicas é a vacinação. Mas afinal qual vacina meningocócica é importante de ser aplicada? Apenas a do posto? Incluir as da clínica privada? Essa é uma dúvida diária das famílias nos consultórios.

Desde o segundo semestre de 2010, a vacina contra o meningococo C foi introduzida em todo o Brasil para os bebês a partir dos 3m. Hoje ela é iniciada nessa idade, como doses aos 3 e 5 meses e reforços aos 12 meses e aos 11 anos. Quando a unidade de saúde recebe um adolescente nunca antes vacinado, ele receberá uma dose única da vacina. A introdução da vacina a nível nacional, fez com que a incidência de meningite meningocócica diminuísse na população vacinada, havendo uma diminuição da frequencia da doença em outras faixas etárias (mesmo as não vacinadas) pela menor circulação da bactéria  na comunidade.

O Programa Nacional de Imunizações do Brasil é considerado de excelência frente a outros países do mundo. O calendário vacinal oferecido por ele é bastante completo, contendo todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de forma gratuita e indiscriminada. O objetivo principal desse calendário é a promoção da saúde pública, com redução a nível populacional da incidência da doença, complicações e óbitos. Nesse sentido a vacina meningocócica contra o sorogrupo C cumpre totalmente sua missão, já que foram observadas importantes quedas da presença da doença.

Entretanto, pensando-se em cuidados de saúde a nível individual, existem outras vacinas meningocócicas possíveis de serem utilizadas, para ampliar a proteção do paciente para os outros sorogrupos circulantes em nosso meio. Essas são recomendadas nos calendários da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). São elas as vacinas meningocócicas ACWY e B.

Ambas só são disponibilizadas em clínicas particulares de vacinação. Disponíveis para aplicação à partir dos 3 meses de vida.

Existem duas vacinas contra o meningococo ACWY (Menveoâ e Nimenrixâ), fabricadas por duas indústrias farmacêuticas distintas, com esquemas variados conforme o produto utilizado e a data de início do esquema. Idealmente é feita aos 3, 5 e 7m (com dose aos 7m apenas quando utilizamos a vacina Menveoâ), com reforço entre 12 a 15 meses. Quando o início da aplicação é tardio, o número de doses e esquema utilizado é alterado. Crianças acima de 1 ano, adolescentes e adultos que recebem a Nimenrixâ, receberão dose única, sendo essa a programação para Menveoâ apenas para maiores de 2 anos.

Para ambas vacinas meningocócicas ACWY estão recomendadas dose de reforço após 5 anos da última aplicação, tendo em vista a possibilidade de perda de proteção. Habitualmente esse reforços são feitos entre 5 e 6 anos e aos 11 anos de idade.

Não existem estudos que mostrem como é a resposta de proteção para o meningococo com esquemas que misturem doses de diferentes produtos. Por conta disso, o ideal é iniciar e acabar o esquema com o mesmo produto. Crianças que receberam vacina contra o meningococo C podem ampliar a proteção para os tipos ACWY, porém receberão um novo esquema vacinal com esse produto, de forma adequada para a idade da criança.

A vacina contra o meningococo B é liberada pela Anvisa à partir de 2 meses, porém habitualmente os esquemas se iniciam com doses aos 3 meses, seguidos de doses aos 5 e 7 meses, com reforço entre 12 e 23 meses. Quando iniciada em idade diferente da preconizada, o número de doses altera, sendo sempre duas doses quando o inicio é a partir dos 12 meses, mantendo-se assim até a idade adulta.

Apesar do custo bastante elevado, o investimento em proteção sempre é extremamente bem-vindo e desejável, principalmente quando falamos de doença meningococócica, que possue ainda hoje, apesar dos grandes avanços da medicina, coeficientes de letalidade na marca de 20-25%, sendo sempre bem mais elevados em crianças menores (especialmente nas menores de 2 anos), com índice de seqüelas nos sobreviventes em taxas que podem chegar até a 40% (dependendo do estudo avaliado), que pode variar desde surdez, déficit cognitivos até amputação de membros. Ou seja, sempre é um quadro extremamente grave.

Converse com seu pediatra para a orientação específica do seu caso e de seu filho. Investir em vacinação sempre é o melhor caminho!!!

Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228

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