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Monkeypox – entenda a doença

Monkeypox é uma doença viral, descrita pela primeira vez em 1958. Surgiu inicialmente na África, ficando concentrados os casos nessa região e excepcionalmente em viajantes dessa área, havendo uma mudança no surto recente, com o aparecimento de casos em países de todo o globo, sem haver agora relação com viagens ao continente africano, tornando-se uma doença de importância para a saúde pública global.

Em 15 de maio de 2022, a Organização Mundial da Saúde foi notificada de 4 casos confirmados no Reino Unido. Progressivamente a doença se espalhou pelo mundo, totalizando já quase 60 mil casos em mais de 100 países, com 22 óbitos, sendo declarada como emergência de saúde global. Brasil é o terceiro país com maior número de casos no mundo, com mais de 6 mil casos confirmados.

Os dados em crianças são bem limitados, disponíveis apenas de surtos anteriores sugerindo que as crianças podem estar em maior risco de formas graves da doença, com maior possibilidade de internação, complicações, incluindo infecção generalizada, encefalite e morte, com taxas de letalidade variando de 11 a 15%.

Existe possibilidade de transmissão do vírus aos seres humanos a partir de animais, porém não nos casos atuais e os macacos, animais originalmente descritos como doentes na década de 50, NÃO tem relação com nossa atual situação e portanto não devem ser penalizados.

No surto atual foram observadas taxas altas de transmissão, acometendo um número desproporcionalmente alto de homens que fazem sexo com homens, a maioria entre 30 e 39 anos. Importante ressaltar que diferente da média global, o Brasil apresenta uma proporção relativa de casos em menores de 17 anos e em mulheres significativamente maiores do que em outros países, mostrando que todos podem ser acometidos pela doença.

A transmissão de humano para humano não ocorre facilmente, sendo necessário habitualmente contato próximo ou íntimo com pessoa infectada para que essa aconteça, podendo resultar através de secreções respiratórias, lesões na pele ou objetos e superfícies recentemente contaminados, incluindo roupas, roupas de cama, toalhas. A transmissão respiratória também pode acontecer.

A transmissão vertical (da mãe para o bebê) pode ocorrer, não tendo sido descrita transmissão pelo leite materno. Neste momento não está concluído, mas os casos diagnosticados sugerem que a transmissão sexual possa ser uma possibilidade, estando essa forma de transmissão, ainda sob investigação. A transmissão de humanos para animais de estimação pode acontecer, podendo estes funcionarem como “meio de transporte” do vírus para outros humanos.

O período de incubação da doença varia de 5 a 21 dias, com sintomas presentes por 2 a 4 semanas. Classicamente a infecção é dividida em dois períodos, um primeiro febril, durando em média 5 dias, podendo ser acompanhado de dor de cabeça, fadiga, dor muscular, indisposição, aumento de gânglios, seguido do segundo período onde aparecem as lesões de pele, de aspecto inicialmente bolhoso que evoluem para ferida aberta, seguida de formação de crosta, se iniciando em face e espalhando por todo o corpo, podendo atingir boca, olhos, genitais. As lesões podem ser profundas e bastante dolorosas. Essa fase dura em média 2 semanas, podendo ter pouca ou muitas lesões.

No surto atual temos observado diferenças nas manifestações, com sintomas gerais podendo estar ausentes ou surgirem durante ou mesmo depois das lesões de pele, que tem sido mais frequente nas regiões genitais, anais ou orais. Podem ocorrer infecções sexualmente transmissíveis junto com a monkeypox nos adultos, tanto em homens como em mulheres. A doença é geralmente autolimitada, com o período de transmissão até a queda da crosta e restabelecimento da pele normal.

Nas crianças e gestantes as manifestações são semelhantes as observadas nas outras pessoas, mas há um potencial de maior gravidade, complicações e relação com desfechos desfavoráveis na gestação como aborto, natimortalidade, prematuridade, infecção congênita com quadro grave no recém-nascido. Complicações também ocorrem mais comumente entre crianças até 8 anos, pacientes com doenças de pele, além dos imunodeprimidos.

O diagnóstico é clínico pela história e exame físico, sendo confirmado pela coleta do exame da secreção ou crosta da lesão para o exame PCR.

O tratamento é baseado em medidas de suporte clínico com controle da dor e coceira, cuidados de higiene na área afetada e hidratação. A maioria dos casos apresenta sintomas leves e moderados. Internação pode ser necessária se houver maior gravidade do quadro ou estivermos frente a um paciente de risco, existindo nessas situações, a possibilidade de uso de medicação, ainda não disponível no Brasil.

As principais medidas de prevenção são reforço de higiene geral, incluindo lavagem de mãos e limpeza de superfícies, assim como uso de máscaras. Identificar, diagnosticar e isolar os doentes também são importantes formas de prevenção da disseminação da doença pela comunidade. Contatos próximos com doentes devem ser monitorados por 21 dias, não havendo necessidade de isolamento desses. Grávidas devem estar muito atentas a possíveis contatos. Vistas a recém-nascidos também devem ser restritas e avaliadas com muita cautela.

A vacinação contra a monkeypox está chegando ao nosso país, mas virá em um quantitativo pequeno e possivelmente apenas grupos de maior risco poderão vacinar. Orientar a população sobre as medidas de proteção e prevenção é fundamental, já que nosso arsenal terapêutico e de imunizantes ainda é bastante restrito contra a doença.

Dra Daniela Vinhas Bertolini – Pediatra e Infectologista Pediátrica – CRM 85228

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