Aleitamento cruzado é a realização do aleitamento materno por outra pessoa que não a mãe do bebê, por exemplo a mãe permitir que sua irmã, prima, amiga ou qualquer outra pessoa amamente seu bebê. Esse é um hábito antigo, culturalmente aceito no Brasil desde o século XIX que era realizado pelas “amas de leite”, que alimentavam as crianças das famílias onde moravam. Algumas pessoas se espantam com o fato, mas isso infelizmente é bem mais comum do que as pessoas imaginam ainda nos dias de hoje. Pesquisa publicada no ano de 2017, realizada no Rio de Janeiro, mostrou que 29,4% das mães já realizou aleitamento cruzado, geralmente entre parentes ou amigas, acontecendo tanto no aleitamento de outra criança que não seu próprio filho, como
permitindo que seu filho fosse amamentado por outra pessoa (von Seehausen MP e colaboradores).
Nessa mesma pesquisa, alguns fatores foram considerados de risco para a ocorrência do aleitamento cruzado, como ser mãe adolescente, tabagismo, consumo de bebida alcóolica, regimes alimentares inadequados e idade do bebê. Em mais da metade dos casos o aleitamento materno foi praticado entre familiares.
No Brasil o aleitamento cruzado é formalmente contraindicado desde 1996 e apesar de já terem se passado quase 30 anos dessa proibição, algumas pessoas insistem em correr esse risco.
O aleitamento cruzado NUNCA deve acontecer, nem por apenas uma ou poucas mamadas. Ele é uma medida de muito risco para o bebê já que através do aleitamento materno são transmitidas várias doenças, inclusive o HIV. Supor que a mulher que amamenta é saudável e livre de qualquer infecção apenas porque amamenta é um grande erro. Existem casos de mulheres que tem sorologias negativas para o HIV na gestação e parto e se infectam durante a amamentação. Por isso a mulher que você está permitindo que amamente seu filho nessas situações, pode sim oferecer risco. Uma mulher recém infectada pelo HIV, terá a carga do vírus altíssima com possibilidade de até 40% de infecção do bebê.
Apesar de termos grande sucesso dos programas de prevenção de transmissão vertical do HIV no Brasil, com número bastante reduzido de crianças que nascem infectadas, avaliando-se os números dos novos casos, vemos que muitas das que se infectaram, foram ocasionadas pelo aleitamento materno ou cruzado.
Infelizmente esse assunto é pouquíssimo discutido e orientado mesmo entre os pré natais ou seguimentos das crianças na pediatria.
Aleitamento materno deve ser feito apenas pela própria mãe. Na impossibilidade dele acontecer é melhor que a criança seja alimentada através de uso de copinho ou mamadeira com fórmula infantil.
Siga sempre as recomendações do seu médico e divulgue essas importantes informações entre os amigos e familiares.
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatra e Infectologista Pediátrica – CRM 85228