A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, altamente contagiosa, que atinge o trato respiratório, especialmente traquéia e pulmão, com possibilidade de prevenção através do uso de vacinas. Os casos ocorrem no mundo todo, podendo atingir qualquer faixa etária.
A transmissão ocorre, principalmente, pelo contato direto do doente com uma pessoa suscetível, através da eliminação de gotículas de secreção de orofaringe eliminadas ao tossir, falar ou espirrar, sendo raro a transmissão por objetos contaminados com secreções do doente. A bactéria causadora da coqueluche é a Bordetella pertussis. A grande maioria das pessoas, especialmente os bebês, são infectados pelos contatos próximos, como a mãe, pai ou avós. Um adulto infectado pode resultar em até 17 casos novos.
Apesar da vacina prevenir a doença, a proteção oferecida por essas não é vitalícia, ou seja, com o passar dos anos os níveis dos anticorpos fornecidos pela vacina caem e a pessoa se torna susceptível, podendo contrair e dessa forma transmitir a doença a outras pessoas.
As manifestações clínicas variam muito conforme a idade do paciente. Em uma fase inicial os sintomas podem ser leves, caracterizados por febre baixa, mal estar, coriza, tosse seca. Apesar dos sintomas serem mais leves a possibilidade de transmissão é altíssima nessa fase. A frequência e a intensidade dos acessos de tosse tendem a aumentar gradualmente até o surgimento das crises de tosse muito intensas e desconfortáveis.
Com o transcorrer das semanas a febre pode se manter baixa ou desaparecer, porém as crises de tosse persistem, sendo mais frequentes a noite, podendo ter cerca de 10 a 30 crises de tosse em até 24 horas. As crises normalmente são seguidas de um esforço inspiratório importante que pode produzir o “guincho” característico (um som alto, produzido quando o paciente tenta “puxar o ar”).
Crises de cianose (ficar com a pele arroxeada), saliência dos olhos, protrusão da língua, salivação, lacrimejamento, ingurgitamento das jugulares podem estar presentes, assim como vômito após as crises de tosse. Na fase de recuperação, a tosse pode persistir por vários meses.
Nos bebês menores de 1 ano e especialmente nos primeiros 6 meses de vida, os quadros podem ser bem graves, ocorrendo número elevado de complicações com necessidade de suporte de oxigênio, grande possibilidade de internação, algumas vezes inclusive em UTI. A possibilidade de evolução para óbito existe nesse grupo etário.
O diagnóstico é feito baseado em dados clínicos da história do paciente, no aspecto radiográfico pulmonar e no resultado dos exames, principalmente hemograma, sorologias, culturas e outros mais específicos.
O tratamento é feito com uso de antibióticos, associados a medidas de suporte, como hidratação, oxigenioterapia, fisioterapia respiratória, entre outras.
O número de casos de coqueluche no Brasil estava em queda desde a década de 1990, apresentando importante redução na incidência da doença. Porém desde 2011 observou-se um aumento súbito do número de casos com a incidência ultrapassando o limite superior esperado ao se comparar com períodos anteriores. Esse aumento, chegou em alguns momentos a superar em 10 vezes o número de casos anuais que habitualmente ocorriam, mantendo-se as taxas ainda bastante elevadas. A principal faixa etária atingida são os menores de um ano de idade, correspondendo a cerca de 70% dos casos de coqueluche no país. Os bebês menores de 6 meses estão sendo atingidos de forma mais grave, com casos habitualmente bem complicados e maiores incidências de óbito. No Brasil, em 2014, mais de 50 crianças menores de 6 meses de idade morreram por coqueluche. Isso ocorre porque nesse grupo o esquema vacinal inicial não está finalizado e portanto as crianças estão desprotegidas. Mesmo após os 6 meses, quando o ciclo inicial de vacinação já tiver sido completo, a imunidade ainda não é plena e por isso a criança ainda pode ser gravemente afetada.
A principal medida de prevenção contra a coqueluche é a vacinação. Essa é recomendada para todas as crianças à partir dos 2 meses, com doses aos 2, 4 e 6 meses e reforço aos 15 meses e 4 anos, sendo essa administrada pelo Ministério da Saúde nos postos de saúde ou em clínicas privadas de vacinação. Nas crianças as vacinas possíveis são a DPT (fornecida pelo Ministério da Saúde) ou a DPTa (fornecida pelas clínicas privadas de vacinação). A diferença entre ambas não é a proteção alcançada, já que ambas protegerão da mesma forma as crianças; o diferencial entre as duas é a possibilidade de efeitos colaterais, como febre, irritabilidade, choro intenso, entre outros, que é bem menor quando utilizada a DPTa.
A vacina também é recomendada para todas as gestantes, à partir da 20ª semana de gestação, sendo fornecida nessa situação pelo Ministério da Saúde a vacina dpta. Não há diferença da vacina aplicada nas unidades públicas ou privadas para as gestantes. Toda gestante DEVE ser vacinada. Essa é uma medida de extrema importância não apenas para proteção da gestante, mas também para proteção do bebê, já que vimos que é nessa idade que estão ocorrendo os casos mais graves.
A aplicação da dose na gestante proporciona a transferência dos anticorpos da mãe para o feto pela placenta, evitando que eles contraiam a doença até que finalizem seu próprio esquema de vacinação inicial com a vacina DPT, que só ocorre aos seis meses de idade, ou seja, eles já nascem com alguma proteção contra coqueluche. Bebês que nascem prematuros tem prejuízo desse recebimento de anticorpos, já que a transferência máxima destes ocorrem nas últimas semanas de gestação.
As mulheres que perderam a oportunidade de serem vacinadas durante a gestação, ou por não terem sido encaminhadas ou por alguma outra razão, devem receber uma dose de dTpa no puerpério, logo após o parto, o mais rápido possível. Essa medida, de vacinação pós parto deve sempre ser evitada. A época ideal de vacinação é na gestação, pois ao se vacinar uma gestante após o parto, não haverá transferência de anticorpos para o feto, consequentemente, há diminuição da possibilidade de proteção das crianças contra a coqueluche nos primeiros meses de vida. A vacinação pós parto garantirá apenas que a mãe não adoeça e portanto não leve a bactéria para próximo da criança, evitando seu adoecimento. Considerando-se esse raciocínio, outros membros da família como pai, avós por exemplo, também poderiam receber a dpta.
Apesar da vacina estar implementada em território nacional desde novembro de 2014 e ser fornecida gratuitamente pelo Ministério da Saúde, as coberturas vacinais ainda tem sido baixas e uma parcela considerável das gestante ainda não são encaminhadas para vacinação. A vacina é segura, não contém bactérias vivas, não oferecendo risco algum a gestante, trazendo apenas benefícios, não apenas a saúde da mulher, mas principalmente pela proteção oferecida para o bebê após seu nascimento.
Gestantes, não deixem de se vacinar. Converse com seu ginecologista ou com o pediatra na sua consulta pediátrica de pré natal. Proteja seu bebê antes mesmo dele nascer!!!
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228