A febre amarela é uma doença infecciosa não contagiosa, causada por um vírus, sendo endêmica nas áreas de florestas tropicais da América do Sul e África, podendo ocorrer sob a forma de surtos e epidemias em outras regiões.
Atualmente a região mais afetada por focos de febre amarela é a região Sudeste do país, especialmente o Estado de Minas Gerais.
Em aproximadamente 90%, o quadro clínico é assintomático ou oligossintomático, ou seja, sem nenhum sintoma ou com pouquíssimos sintomas. A febre amarela pode ser assintomática, leve, moderada, grave e maligna, com letalidade entre 5% a 10%, podendo atingir 50% nos casos graves. A doença, principalmente nas formas graves, pode ser confundida com leptospirose, malária, hepatites virais, entre outras doenças.
- Forma leve: o quadro clínico é autolimitado com febre e dor de cabeça com duração de dois dias. A remissão é espontânea. Geralmente, nesses casos, nem é feito o diagnóstico de febre amarela.
- Forma moderada: o paciente apresenta, por dois a quatro dias, sinais e sintomas de febre, dor de cabeça, muscular e articular, olhos avermelhados, náuseas, indisposição e alguns fenômenos hemorrágicos como sangramento nasal. Pode ficar levemente ictérico (pele amarelada). Essa forma, assim como a leve, involui sem complicações ou sequelas.
- Forma grave: em pessoas nunca vacinadas podem ocorrer formas graves da doença. Nos quadros graves, após 5 a 6 dias de período de incubação, o início dos sintomas é abrupto e perdura por 4-5 dias com febre alta, diminuição da pulsação, dor de cabeça e muscular intensa, icterícia, sintomas hemorrágicos. Mesmo nos casos graves, pode ocorrer involução em torno de sete dias.
- Forma maligna: quadro muito grave, com manifestações hemorrágicas intensas, icterícia e sintomas neurológicos. A letalidade é alta, em torno de 50%; entretanto, em alguns casos, os sintomas podem regredir em uma semana.
O diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e história de ter estado em região de risco. Pode ser confirmado com exames de sangue específicos (sorologia e PCR).
Com relação as complicações, a doença pode regredir completamente ainda que possa ocorrer persistência da dor muscular e articular por semanas. Os casos graves podem evoluir para óbito. Tardiamente podem ocorrer óbitos por lesões cardíacas.
Não existem medicamentos específicos contra o vírus da febre amarela, não devendo ser utilizados anti-inflamatórios e ácido acetilsalicílico (AAS). O tratamento é apenas sintomático, ou seja, para alívio dos sintomas e suporte. Casos graves devem ser internados, muitas vezes na UTI nos casos críticos.
Recomendações a população
- Não é recomendada a vacinação contra FA de pessoas vivendo fora de áreas endêmicas, uma vez que o risco da vacina suplanta seus benefícios.
- Só é recomendada a vacinação para febre amarela em pessoas vivendo ou que vão viajar para áreas endêmicas para febre amarela, conforme mapa do Ministério da Saúde.
- Neste grupo, a vacina é recomendada para pessoas entre 9 meses e 60 anos de idade, desde que não estejam imunossuprimidas, gestantes, mulheres em lactação.
- Pessoas com mais de 60 anos deverão ser avaliadas em relação ao risco/benefício para recomendação de vacinação.
- Quando não há possibilidade de vacinação de pessoas visitando áreas endêmicas, deve-se reforçar medidas de proteção como uso de repelentes e roupas impregnadas com permetrina.
- Repelentes podem ser utilizados em crianças a partir de 6 meses de idade, segundo recomendações vigentes no Brasil (ANVISA).
Quando estiver em área de risco, usar camisas de mangas compridas e calças, ficar em lugares fechados com ar condicionado ou que tenham janelas e portas com tela, para evitar a entrada de mosquitos, dormir debaixo de mosquiteiros, preferencialmente impregnados com permetrina, não usar perfumes durante caminhadas em matas silvestres, pois perfumes atraem os mosquitos, usar sempre repelentes registrados oficialmente.
Vacinação contra febre amarela
A forma mais eficaz de evitar a febre amarela é por meio da vacinação. A vacina contra febre amarela é elaborada com vírus vivo atenuado da febre amarela. Ela é considerada segura e eficaz a partir dos 9 meses de idade em residentes e viajantes para áreas endêmicas, e a partir dos 6 meses em situações de surto.
O nível de anticorpos será adequado para proteção após 10 dias da aplicação da primeira dose, sendo essa proteção bastante alta, em torno de 97,5% em adultos.
A vacina está indicada para pessoas vivendo em áreas de risco ou que viajarão para tais locais. Quando a indicação é por conta de viagem para área de risco, a dose deverá ser aplicada no mínimo com 10 dias de antecedência da viagem, para que a proteção já esteja estabelecida ao chegar ao local.
A vacinação está contra-indicada em gestantes, mulheres em aleitamento materno de crianças menores de 6 meses. Adultos acima de 60 anos de idade devem ser avaliados individualmente analisando relação risco/benefício. Pessoas com doenças que levem a imunodepressão ou em uso de drogas imunossupressores (como tratamento com quimioterápicos) devem ser avaliadas com bastante critério se podem ou não receber a vacina. Outra situação que requer atenção, são s pessoas alérgicas a ovo; essas também devem ser avaliadas pesando risco e benefício da aplicação.
Os efeitos colaterais da vacina podem ser desde leves, como dor, vermelhidão e enduração no local da aplicação, moderados como dor muscular, dor de cabeça, febre, até graves com manifestações muito semelhantes a febre amarela doença em sua forma mais crítica (com alterações neurológicas, hemorrágicas). Esses efeitos colaterais graves são raríssimos e parecem mais prováveis em pessoas com doenças de base, porém existem raras descrições de pessoas saudáveis que desenvolveram tais eventos adversos. Todos os casos descritos de eventos adversos graves ocorreram posteriormente a aplicação da primeira dose da vacina, não havendo descrições após a segunda dose.
Com relação a segunda dose da vacinação, no caso das pessoas que receberam a primeira dose por conta de viagens, essa deverá ser aplicada após 10 anos, quando houver necessidade de nova proteção, por nova viagem.
Por conta da situação epidemiológica atual e da possibilidade dos eventos adversos, a recomendação do Ministério da Saúde hoje, continua sendo vacinar apenas pessoas das regiões de risco (residentes ou viajantes). Outras pessoas por hora, não devem ser vacinadas.
O Ministério da Saúde possui um blog para informações gerais da febre amarela e esclarecimento de dúvidas aos internautas. Nele sempre conseguimos acessar o mapa atualizado das áreas de recomendação da vacina. http://www.blog.saude.gov.br/index.php/geral/52271-ministerio-da-saude-tira-duvidas-dos-internautas-sobre-a-febre-amarela
Em caso de dúvida, sempre procure orientação médica.
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228