Nosso Blog

Baixas coberturas vacinais nos colocam em risco

Nenhuma ação e investimento em saúde da história ofereceu retorno tão eficaz e  transformador quanto a vacinação. Ela produziu efeito bastante expressivo na  redução da mortalidade e no crescimento populacional mundial, gerando benefícios  diretos e indiretos com melhorias das condições de saúde e bem-estar da população,  economia para sociedade com redução dos custos com consultas, tratamentos,  internações, além de impacto na diminuição absenteísmo escolar e do trabalho. 

O século XX foi marcado com o início da vacinação de rotina nas grandes populações,  trazendo sempre novidades e novas perspectivas constantes na área de  imunizações, totalizando mais de 1 bilhão de crianças vacinadas na última década.  Recentemente tivemos a publicação na revista The Lancet de um importante estudo liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelando que os esforços  globais de imunização salvaram cerca de 154 milhões de vidas – ou o equivalente a  seis vidas a cada minuto de cada ano – nos últimos 50 anos. A grande maioria das  vidas salvas – 101 milhões – foi de crianças. 

Segundo o estudo, quase 94 milhões das cerca de 154 milhões de vidas salvas desde  1974 resultaram da proteção das vacinas obtida contra o sarampo; em contrapartida  a esse número tão expressivo, nos deparamos com a marca de 33 milhões de  crianças que não tomaram uma dose da vacina contra o sarampo em 2022: quase  22 milhões perderam a primeira dose e outras 11 milhões perderam a segunda dose. Esse número é extremamente preocupante e o Brasil infelizmente colabora com ele por conta das nossas coberturas vacinais que ainda possuem falhas. O sarampo é um  dos exemplos, mas em todas as vacinas isso ocorre, com coberturas abaixo do  indicado e com isso possibilidade de ressurgimento de doenças.  

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado em 1973, mas campanhas de  vacinação já aconteciam antes disso, há mais de 100 anos. Ele é responsável pela  organização da política nacional de vacinação na população brasileira, sendo uma  referência internacional de política pública de saúde, com erradicação de doenças  de alcance mundial como varíola e poliomielite. A população brasileira tem acesso  gratuito a todas as vacinas recomendadas pela OMS.  

Respeitar e receber as vacinas nos momentos e intervalos preconizados é  fundamental para o sucesso do esquema vacinal, em termos de proteção e produção  de anticorpos. Quando acontecem atrasos das datas, a proteção não pode ser  garantida na sua totalidade. Os intervalos estipulados são sempre frutos de estudos  científicos sérios sendo dessa maneira que é atingida a proteção máxima.  

Estamos assistindo a nível mundial nos últimos anos, e o Brasil não funciona  diferente, a uma queda nas coberturas vacinais de forma geral, em praticamente  todas as vacinas disponíveis. Esse já era um problema previamente a pandemia,  devido as fake news e movimento antivacinas, e se agravou muito durante os anos  de COVID-19. Infelizmente durante o isolamento, a população deixou de levar as  crianças para vacinação, atrasou intervalos recomendados, abrindo possibilidade 

para o ressurgimento de várias doenças já controladas previamente ou dificultando  o controle das que já estavam ocorrendo.  

Situações extremamente preocupante aconteceram com o sarampo, poliomielite,  febre amarela, difteria e agora mais recentemente com a coqueluche, com quedas  importantíssimas das coberturas vacinais, algumas doenças e regiões chegando a  40% permitindo sim o ressurgimento de doenças e mesmo o risco de epidemia  dessas no nosso país. Temos de lembrar que o mundo hoje é muito dinâmico e com  o fluxo de viagens que acontecem, doenças de qualquer local do mundo podem  chegar ao nosso país e encontrando uma população com “brechas” na cobertura e  verdadeiros bolsões de susceptíveis e de fato esses problemas podem retornar, com  surgimento de surtos, epidemias ou mesmo novas pandemias.  

Motivados por toda a problemática a OMS, UNICEF e outras entidades muito  importantes lançaram a campanha conjunta “Humanamente Possível, que marcou a Semana Mundial de Imunização, de 24 a 30 de abril de 2024. A campanha de  comunicação global pede aos líderes mundiais que defendam, apoiem e financiem  as vacinas e os programas de imunização que fornecem esses produtos que salvam  vidas – reafirmando seu compromisso com a saúde pública, ao mesmo tempo em  que celebram uma das maiores conquistas da humanidade. Todos podemos  participar da campanha fazendo nossa “lição de casa” individualmente, mantendo a  cobertura vacinal de sua família 100% em ordem.  

Manter o esquema vacinal sempre em dia, colabora na prevenção dessas e de todas  as doenças contempladas pelas vacinas. A ausência das vacinas sempre coloca as  crianças e familiares em risco. Em caso de dúvida, procure sempre um profissional  da saúde para orientações. 

Em caso de dúvidas, procure sempre orientação de um profissional de saúde. 

Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatra e Infectologista Pediátrica – CRM 85228

Está gostando do conteúdo? Compartilhe.

Deixe um comentário