O zyka vírus pertence a família Flaviviridae, relacionado aos vírus da dengue, febre amarela e outras doenças. Foi descoberto em 1947, isolado de um macaco em uma floresta em Uganda, na África. Por cerca de 60 anos, causou doença esporádica em seres humanos na África e a partir de 2007 houve o primeiro surto nessa região. Em maio de 2015 ele chegou ao Brasil, sendo confirmados casos com sintomas muito semelhantes a dengue no nordeste. O surto de zyka continuou a se expandir por vários locais e até junho de 2016, 60 países e territórios já tinham descrições de casos de zyka.
Alguns meses após o Ministério da Saúde identificar a presença do vírus no Brasil, o mesmo órgão detectou o nascimento de maior número de bebês com microcefalia em estados do nordeste, local onde houve maior circulação do vírus. Esse fato foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, havendo progressivamente com o aparecimento dos casos, maior definição das consequências graves da doença, não apenas em bebês, mas em outras faixas etárias.
Transmissão
A principal forma de transmissão do zyka vírus para humanos é através da picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue, febre amarela e chikungunya. Macacos são os principais reservatórios do vírus. Outras formas de transmissão são perinatal ou intra-útero (da mãe para o filho), sexual, por transfusão sanguínea ou exposição laboratorial (das equipes que trabalham em laboratório). O vírus é identificado no leite materno, mas até hoje isso não é considerado como forma de transmissão e dessa forma, as mães podem amamentar. Também foi identificado o vírus na saliva e urina, mas essas formas até hoje não foram documentadas como possíveis de transmissão.
Sintomas
O período de incubação da doença é de 3 a 14 dias. Pessoas infectadas, com ou sem sintomas, transmitem o vírus ao mosquito, se forem picadas pelo Aedes durante todo o tempo que possuem o vírus circulante no sangue. O mosquito infectado será capaz de infectar outras pessoas futuramente picadas por ele. Crianças e adolescentes tem menos chance de apresentar sintomas, quando comparadas com adultos e bebês (síndrome congênita causada pelo zyka vírus).
Cerca de 80% das pessoas que tem infecção pelo zyka vírus são assintomáticas, ou seja, não apresentarão sintomas. Quando esses aparecem, normalmente a doença é leve e limitada, podendo haver manchas na pele, coceira, febre, dor muscular e em articulações, inchaço em mãos e pés, conjuntivite, com o quadro durando cerca de 1 semana. Podem ainda aparecer diarréia e vômito, dor abdominal, dor de cabeça e na região atrás dos olhos, assim como aparecimento de gânglios.
Os sintomas são muito semelhantes a outras doenças como dengue e chikungunya, necessitando para o esclarecimento do diagnóstico, da realização de exames específicos, como sorologia e PCR. A avaliação médica é fundamental.
Doença grave que motive internação parece ser mais rara também em crianças. As complicações mais tremidas são as neurológicas e auto-imunes.
A infecção na gestante pode ser relacionada a abortamentos e malformações congênitas no concepto, principalmente neurológicas como microcefalia, hidrocefalia entre outras bastante graves, como articulares e oculares. Alguns estudos mostram que 30% das mulheres grávidas infectadas pelo zyka, possuem alterações ultrassonográficas nos fetos. Apesar de ser uma doença bastante recente, sabemos que essas crianças comprometidas, terão sequelas e grave comprometimento da qualidade de vida, por convulsões, atraso de desenvolvimento, deficiências visuais e auditivas. Todo bebê exposto ao zyka durante a gestação, deve ser avaliado e investigado.
Tratamento
Até o momento, não há tratamento nem vacina para a infecção pelo zyka vírus. Todas as medidas são de suporte, para alívio dos sintomas ou tratamento das sequelas. Dessa forma é fundamental a prevenção das picadas pelo mosquito, com controle deste, evitando reservatórios de água parada, onde se proliferam, uso de repelentes, roupas de mangas compridas, calças quando em contato com regiões de risco. Além disso, na gestante é fundamental a realização do pré-natal com o monitoramento desta, observação dos sintomas suspeitos e investigação sempre que necessário.
Em caso de dúvida, procure sua equipe de saúde para orientação.
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228