O Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria publicou recentemente um documento com orientações para volta às aulas. Confira abaixo o documento na íntegra, com orientações bastante interessantes para todas as faixas etárias.
Um novo ano letivo está começando. É a volta às aulas para alguns estudantes e o início do convívio escolar para outros. Para aqueles que estão retornando às aulas, é o momento do reencontro com a escola, os professores e os colegas. Para os novos alunos, surge o desafio de passar a frequentar um espaço coletivo de convivência, longe das famílias, vivenciando a experiência de lidar com diferenças, fazer novas amizades e enfrentar novas situações no seu cotidiano. Nessa perspectiva, algumas questões devem ser consideradas pela escola, professores, famílias e alunos, assim como pelos pediatras que os acompanham em seu processo de crescimento e desenvolvimento.
As crianças pequenas, da Educação Infantil, passam por um período de (re)adaptação, em que normalmente as creches e pré-escolas solicitam a permanência do responsável por mais tempo, até se certificarem de que está tudo bem. Os pequenos estranham novos espaços, a professora nova, a mudança de rotinas. A mesma sensação pode estar presente em crianças maiores e adolescentes, principalmente os que mudaram de escola, ou mesmo de cidade. Nesse contexto, a atenção para sinais de bullying ou de outra forma de violência torna-se essencial. Há que se considerar a ansiedade que vem com novas obrigações e com o aumento de exigências, principalmente nas grandes passagens (para o Ensino Médio e para a Universidade).
Nas férias costuma haver mudanças de hábitos, às vezes bem radicais, que devem voltar à normalidade durante o período escolar. Quem dormia pouco ou deitava e acordava tarde precisará voltar a um padrão que valorize as horas de sono necessárias para um bom rendimento na escola, estando descansado e atento. Também a alimentação, se teve mudanças, precisa voltar ao normal, adaptando-se aos horários da escola. Sem esquecer a necessidade de beber água, com o incentivo da escola, para os pequenos, e a autonomia esperada dos adolescentes. A volta às aulas acontece numa época muito quente do ano e tais cuidados são essenciais.
Um item importante é a mochila. Para evitar danos (dores e, mais tarde, desvios da coluna), ela deve ser de material leve e, quando cheia, Volta às aulas 2 não deve ultrapassar 10% do peso do estudante. Deve ser arrumada diariamente para levar só o que for necessário. O tamanho da mochila também é importante, tem que ficar acima da cintura. Até para colocar e tirar a mochila, ou transportar as que têm rodinhas, precisa ter cuidados especiais. Uma parte do material pode permanecer na escola, guardada em armários próprios.
No retorno às aulas, após quase dois meses de férias, podem aparecer sinais e sintomas de situações que não estavam presentes ou ainda não tinham sido observadas até o final do ano letivo anterior, como queixas visuais e dor de cabeça. Convém estar atento a essas alterações nas primeiras semanas de aula, caso uma revisão dos óculos (para quem usa) ou uma consulta com oftalmologista não tenha ocorrido recentemente. É importantíssimo saber da acuidade auditiva dos estudantes e providenciar exame se houver dúvidas ou se aparecer alguma dificuldade sugestiva. Ainda mais que as salas de aula costumam ser barulhentas em excesso, aliás, um assunto que deve estar na pauta de ações da escola.
Sempre é hora de verificar o cartão de vacinas da criança e do adolescente. Se houver vacinas em atraso e não se aproveitou o período das férias para colocá-las em dia, não se deve perder tempo.
Não podemos nos esquecer do transporte dos estudantes para a escola e na volta para a casa. Seja em automóvel, transporte escolar, transporte coletivo ou mesmo a pé, é fundamental atender a todos os requisitos de segurança, especialmente o uso de cinto e de cadeiras apropriadas, de acordo com a idade.
Há estudantes que precisam receber medicação no horário escolar (especialmente aqueles com doenças crônicas). É a hora de novamente combinar os detalhes com a escola e com os novos professores, a fim de que tal necessidade seja contemplada sem prejuízos.
Especial atenção (principalmente nos primeiros anos de vida) à possibilidade de aumento do número de casos de doenças de transmissão interpessoal, considerando o convívio em ambientes coletivos. Destacam-se as doenças causadas por vírus e as parasitoses. Alguns lugares do país recebem seus alunos na volta das férias em clima de preocupação com a possibilidade das doenças que têm em comum a transmissão pelo mosquito Aedes aegypti. Há preocupação com dengue, zika e chikungunya e não podemos deixar de considerar a hipótese de febre amarela, atentando para aqueles estudantes que recentemente estiveram em áreas rurais ou de matas, nas regiões que estão apresentando casos da doença. A escola deve estar preparada para o combate aos mosquitos, com aplicação adequada de inseticidas e eliminação sistemática de depósitos de água parada. E também preparar-se (e orientar) para aplicação de repelente de insetos nos alunos, quando recomendado. Incluir o tema no planejamento pedagógico é bem oportuno.
Por fim, a consulta pediátrica pode agregar todas essas demandas junto às famílias, atendendo as especificidades de todas as faixas etá- rias, e por isso é imprescindível.
Fonte: http://www.sbp.com.br/src/uploads/2017/02/Sade_Escolar_Volta_as_aulas.pdf
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228