“Crianças a partir dos oito anos de idade já compreendem a morte e podem tentar o suicídio. O acesso aos meios é um fato consumado para o ato”. Esse é o entendimento do dr. Orli Carvalho da Silva Filho, médico psiquiatra da infância e adolescência do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). De acordo com ele, o estudo “Preventing suicide – A global Imperative”, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2014, a importante causa para a mortalidade por suicídio na faixa-etária entre 15 e 29 anos se dá pelo caráter impulsivo nesta faixa etária e pela facilidade de uso de diferentes mecanismos.
Os dados da OMS colocam o Brasil em oitavo lugar no mundo, com variabilidade regional interna, dentre os que possuem maior taxa de mortalidade por suicídio, com uma média de 33,3 casos para cada grupo de 100 mil habitantes. Os Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre os anos de 2002 e 2012, houve um crescimento dos índices específicos nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Os três estados onde os indicadores mais aumentaram, no período, foram Paraíba (109,7%), Amazonas (100,6%) e Tocantins (90,9%). Por outro lado, houve redução percentual no Ceará, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Amapá.
INCIDÊNCIA – A maior incidência de casos de suicídio atinge a faixa-etária entre 19 e 23 anos. Cerca de 90% dos casos têm associação com transtornos mentais no período. “Em 50% dos casos, tal associação se deu nos dois anos anteriores a essa idade, ou seja, a partir dos 17 anos”, conclui o dr. Orli. O especialista alerta que os fatores de risco que mais contribuem para isso são história de “suicidalidade” (ainda pensa em suicídio/tentativa prévia), demográficos (sexo masculino/morar sozinho), estado mental (transtorno de humor / uso de substância / irritabilidade, agitação ou sintomas psicóticos), história familiar (comunicação frágil com cuidadores/casos familiares) e história social (abuso sexual / minorias sexuais e étnicas / fragilidade de grupos apoio).
TRANSFERENCIA – “O suicídio de adolescentes é subnotificado e subdiagnosticado. A sociedade despreza o sofrimento real da criança. Falta um olhar de atenção e cuidado”, lamenta a presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP, Liubiana Arantes. Segundo ela, a terceirização da infância, acarretada pela falta de tempo dos pais, que transferem para a escola e para as atividades extraescolares cuidados que deveriam ser da família, contribui para a triste estatística.
Outro problema que interfere na questão é a dificuldade de se fazer o diagnóstico de depressão nos adolescentes, pois, na maioria das vezes, a irritabilidade, assim como a agressividade e outras mudanças de comportamento, é vista como característica normal dessa faixa etária. A culpa que os pais sentem quando são apontadas essas mudanças de comportamento nos filhos também dificulta um possível tratamento, afirma a dra Liubiana.
Na opinião da neuropediatra, o pediatra pode desenvolver um papel fundamental na prevenção do suicídio por ser um possível intermediador entre o adolescente e a família. É preciso, segundo a neuropediatra, ter tempo para escutar a criança, observar seu estado emocional, valorizar a queixa e ter um cuidado especial ao avaliar a mudança de comportamento relatada pela família. Além de observar o corpo da criança para perceber sinais de cicatrizes.
Somado a todo preconceito que envolve a questão e dificulta o enfretamento da doença está a falta de infraestrutura e recursos humanos na rede pública e privada de saúde no Brasil. Em 2006, o Ministério da Saúde apresentou para a OMS a Estratégia Nacional de Prevenção ao suicídio, mas a política não saiu do papel. “Existem centros de atendimento à criança e ao adolescente. Mas são insuficientes”, relata Liubiana.
Acesse a matéria completa no site da Sociedade Brasileira de Pediatria http://www.sbp.com.br/sbp-em-acao/risco-de-suicidio-tambem-afeta-a-populacao-de-criancas-e-adolescentes/
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228