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Mundo Transgênero

Pessoas transgêneros ou transexuais são indivíduos que apresentam uma não concordância entre seu corpo fisiológico, ou seja, seu sexo de nascimento (feminino ou masculino), genitais e traços sexuais secundários (mamas, pêlos, etc) com seu gênero, ou seja, como ela se sente ou se define (mulher ou homem).

É muito importante frisar que isso é uma condição inabalável quando já definida, não se tratando de orientação sexual, nem de delírio sobre seu corpo, doença psiquiátrica ou mental, não havendo na medicina, psicologia ou psicanálise esclarecimento com unanimidade da definição sobre a causa da variante de gênero transexual. Ela não é portanto, uma condição patológica ou uma doença, mas sim uma forma como o indivíduo se organiza, se apresenta e se sente. Estima-se que 0,6% da população adulta seja transexual, segundo alguns estudos populacionais.

A ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) estima uma expectativa de vida de cerca de 35 anos para essa população. Infelizmente o Brasil é considerado um dos países mais transfóbicos do mundo, com violência contra eles de diferentes formas (verbal, psicológica, física e sexual). Existe uma grande falta de conhecimento da população sobre esse tema o que faz por aumentar o estigma, preconceito e discriminação.

A transexualidade pode se iniciar desde a infância, em idades algumas vezes muito precoces. A criança se sente diferente, não se reconhece no seu próprio corpo, geralmente não conseguindo interpretar essa situação, podendo gerar muito sofrimento para ela própria. Nas crianças pode haver um comportamento flutuante, como um encantamento pelo sexo oposto, podendo querer experimentar outros papeis como o menino se vestir de menina, ou vice-versa, querer brincar com amigos ou brinquedos do sexo oposto de forma repetida e isso nem sempre é um problema ou a criança é transgênero. Sempre a situação deve ser observada principalmente com relação a sua persistência e como descrito anteriormente, se assume um caráter inabalável e imutável.

Algumas definições são extremamente importantes para compreensão do tema.

  • Sexo biológico: sexo atribuído ao nascimento, definido pelas características genéticas, hormonais e anatômicas como feminino e masculino
  • Gênero: marcadores comportamentais, psicológicos e socioculturais de como a pessoa se caracteriza entre a masculinidade e a feminilidade. Identidade de gênero é justamente essa percepção/identificação, ou seja como a pessoa se sente, se define e se coloca, como homem ou mulher, sendo a identidade uma questão bastante subjetiva, própria e única de cada indivíduo. Algumas pessoas tem binarismo de gênero, ou seja, identidade de gênero bem definida e estável situada nos polos masculino e feminino e outras não possuem esse binarismo e não possuem esse gênero bem definido, podendo ser intermediário ou mesmo transitar pelos gêneros.
  • Orientação sexual: determinada quanto à atração/interação sexual/amorosa, podendo ser o indivíduo heterossexual, homossexual, assexual ou outras

Dessa forma é importantíssimo saber que um indivíduo, seja ele criança, adolescente ou adulto transexual nenhuma relação tem com sua orientação sexual, mesmo porque em se tratando de uma criança ou um adolescente recém chegado na adolescência, a orientação sexual nem está desenvolvida ou definida.

Quando essa situação é definida, o empenho do indivíduo para construir sua expressão no gênero oposto traz muitos conflitos, tanto na vida familiar quanto social, ficando muitas vezes o indivíduo isolado devido à grande discriminação que sofre, havendo como consequência alto índice de depressão, ansiedade, suicídio, automutilação ou outros problemas psíquicos, não sendo novamente, essa a causa da incongruência de gênero, mas sim a consequência da discriminação que sofre.

Crianças, adolescentes e adultos com essa condição necessitam de avaliação e seguimento por equipe multiprofissional com médico, psicólogo, assistente social entre outros para definir as condutas. Esse é um processo muito complexo, geralmente demorado. Após tudo bem definido, o indivíduo pode ser encaminhado para algumas medidas e tratamentos de readequação de gênero, todos instituídos apenas após o término da juventude ou já na vida adulta, como hormonização, seguimento fonoaudiológico, procedimentos cirúrgicos. Outras medidas como alteração do nome civil, ou principalmente uso de um nome social, geralmente se inicia antes dessa fase adulta, quando a condição é reconhecida na infância.

É de extrema importância a compreensão a respeito do tema e o entendimento de que nenhuma pessoa é transgênero por opção. Essa condição já é determinada desde o nascimento, tanto é que existem descrições de crianças de 2-3 anos já com comportamentos muito sugestivos de transgeneridade. Independente da criação ou da postura dos pais e da família, a criança ou adolescente será o que já estiver definido para ser. Ter esse conhecimento e disseminar essas informações ajuda a população a entender esse grupo de pessoas, aceita-las com mais naturalidade, combatendo dessa forma o preconceito e discriminação e diminuindo o sofrimento sofrido por elas consequentes a essas situações. Respeitar a pessoa transgênero e sua família é um ato de amor ao próximo.

Dra. Daniela Vinhas Bertolini, Pediatria e Infectologista Pediátrica – CRM 85228

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