Nas últimas semanas temos assistido a uma explosão de casos de influenza nas crianças, adolescentes e mesmo entre adultos. O responsável é o vírus influenza A, especialmente a cepa H3N2.
O influenza é um vírus que normalmente respeita uma sazonalidade, ou seja, tem uma época de circulação prevista, sendo predominante nos meses de inverno, porém nos últimos tempos tem aparecido em meses totalmente inesperados, como foi em dezembro/janeiro desse ano e agora em pleno setembro/outubro. Os casos estão mais concentrados em São Paulo, mas podem se espalhar para outros estados do país. Os mais atingidos tem sido adolescentes e crianças de 5 a 9 anos segundo levantamentos feitos em laboratórios privados de São Paulo e o Boletim InfoGripe da Fiocruz.
Vírus influenza é o causador de quadros gripais com febre, geralmente súbita e bem elevada, dores de cabeça, dor no corpo, prostração, coriza, dor de garganta, podendo ainda acontecer tosse e sintomas gastrointestinais. Os sintomas são intensos e para pessoas de maior risco como imunodeprimidos, idosos, gestantes, crianças especialmente as menores de quatro anos, podem ocorrer complicações.
As complicações mais comuns, inclusive em gestantes e crianças são pneumonia pelo próprio vírus influenza ou como sobreposição de infecção bacteriana, sinusite, otite, desidratação. A síndrome respiratória aguda grave com insuficiência respiratória também pode acontecer, tendo risco de evolução para o óbito.
Casos suspeitos sempre devem procurar avaliação médica e orientação. Nessa avaliação será procurado evidências de sinais de gravidade, podendo ser realizado exames laboratoriais para confirmação da doença. Clinicamente é impossível sabermos se é covid, influenza ou algum outro vírus respiratório. Por conta disso, a investigação laboratorial é bem importante.
Temos a disponibilidade dos testes rápidos para influenza A e B, que podem ser realizados desde o 1° dia de sintomas, com prazo máximo de 7 dias, sendo que a chance de positividade (sensibilidade) cai bastante após o 5° dia de sintomas. É um exame bem específico com baixa possibilidade de falsos positivos. O resultado sai em até 1 hora, podendo a partir de então ser tomada uma conduta mais específica para o caso.
Existe ainda a possibilidade de realização do PCR para influenza, exame muito parecido com o PCR de covid. É um exame bem específico, sensível, porém de custo mais elevado e tempo maior de demora para o resultado. Os laboratórios podem realizar os painéis para vírus respiratórios que incluem além da pesquisa de influenza e covid, a avaliação para outros vírus respiratórios.
Quando a infecção pelo influenza é confirmada ou se não temos oportunidade de realizar a investigação e a suspeita é grande, podemos instituir o tratamento com o oseltamivir (TamifluR). A medicação é liberada para uso desde o nascimento e segundo as normas do Ministério da Saúde existem grupos com recomendação de uso da medicação, por serem de maior risco para complicações. São elas, gestantes ou puérperas, idosos, crianças menores de 5 anos, pessoas com comorbidades.
A medicação antiviral não deve ser usada indiscriminadamente, sempre devendo a prescrição vir de um médico. Como todas as medicações, efeitos colaterais são possíveis e sempre devemos pesar risco x benefício do uso. Pessoas que não fazem parte desses grupos de risco, mas estão muito sintomáticas podem avaliar com seu médico a indicação da medicação. Quando utilizada, o período ideal para introdução, são as primeiras 48hs de sintomas para termos o efeito desejado.
Medidas gerais de proteção como manter ambientes bem arejados, uso de máscara em ambientes fechados, evitar aglomerações, lavagem frequente de mãos, evitar contato com doentes são medidas gerais que valem também para prevenção do influenza.
Aliado a isso, a vacinação é uma estratégia FUNDAMENTAL para prevenção de doença e especialmente, para evitarmos a evolução para formas graves e óbito. Desde julho a vacinação está liberada para TODA população maior de 6 meses de idade pelo SUS, porém nossa cobertura vacinal segue baixíssima. Segundo o Ministério da Saúde, menos de 70% da população dos grupos alvo se vacinaram. Entre crianças menores de 5 anos, os índices giram em torno de 64%. Isso possibilita que o vírus “encontre espaço” para circular muito mais na população.
Outro ponto a ser discutido é o tempo de duração da proteção da vacina. Sabemos hoje que seu efeito dura apenas alguns meses e talvez doses de reforço no mesmo ano, sejam necessárias. Isso está em avaliação e por hora, apenas para alguns grupos a Sociedade Brasileira de Imunizações tem recomendado. As gestantes, crianças e adolescentes por hora, seguem com a recomendação de uma dose/ano.
Lembrar que temos além da vacina do sistema público que é a trivalente, a tetravalente que faz a proteção para uma cepa a mais do vírus influenza e está disponível em clínicas privadas.
As gestantes vacinadas protegem a si mesmas e são possibilitadas de “imunizar” passivamente seu bebê, pela transferência de anticorpos pela placenta e mesmo pelo leite materno. Isso é importantíssimo, já que será a única forma de proteção do bebê nos primeiros meses de vida, até que ele possa ser vacinado aos 6 meses.
Vacinas salvam vidas!!!
Dra Daniela Vinhas Bertolini, Pediatra e Infectopediatra – CRM 85228